Eu mesma já vi gente morando junto de lixões, e crianças disputando com urubus pedaços de comida estragada para matar a fome.
Quem somos, afinal? Que país somos, que gente nos tornamos, se vemos tudo isso e continuamos comendo, bebendo, trabalhando e estudando como se nem fosse conosco?
Gravei a tristeza, a resignação, a imagem das crianças minúsculas e seminuas, contentes comendo lixo.
Sentadas sobre o lixo. Uma cuidando do irmãozinho menor, que escalava a montanha de lixo. Criadas, como suas mães, acreditando que Deus queria isso.
Deus não quer assim. Deus não inventou a indiferença, a crueldade, o mal causado pelo homem. Nem mandou desviar o olhar para não ver o menino metendo avidamente na boca restos de um bolo mofado, talvez sua única refeição do dia. E naquele instante, a câmera captou sua irmãzinha num grande sorriso inocente atrás de um par de óculos cor-de-rosa que acabara de encontrar: e assim se iluminou por um breve instante aquela imensa, trágica realidade.
(Revista Veja- 14 de abril de 2010 - texto resumido de Lya Luft)
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